Ouvi dizer que amanhã é outro dia... e eu tenciono passá-lo resguardada na deprimência sufocada da minha alma, a tentar proteger a réstia de humanidade que há em mim. Sinto o meu corpo a evaporar-se e o som das minhas palavras a desgastar-se cada vez mais. Fazer rolar o destino na direcção do desejo é muito mais difícil do que pensei. Será que do outro lado do espelho se reflecte igualmente a imagem do meu sentimento?
Apetece-me esganar o laço inacabado e mal dado da minha vida. Estrangular a vontade obsecada de fazer transparecer uma existência imaginada de mim. Uma existência vulgar e pré-programada que qualquer outro ser ordinário idealizaria. Uma existência desinteressante que não serve nem alcança a superioridade de alguém fora do comum que foge à vulgaridade da sociedade dos nossos dias. Essa sociedade estagnada que já deu tudo o que tinha e não tinha para dar. E ainda assim, há quem mantenha o seu nível superior, sem ter a noção daquilo que é, daquilo que faz, daquilo que me faz... Basta a sua presença para me fazer sentir o mundo a desabar diante dos meus olhos... mas eu não me importo porque, apesar de todos os conflitos físicos, psicológicos, neurológicos ou sociológicos, ele nunca desaparece. É uma presença constante na minha vida e se, por ventura, assim não for, não deixará de ser a única presença constante na minha mente, no meu corpo, no meu coração.