sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Demência de estado

Estou sentada no parapeito da minha janela, inspirando o ar contaminado de suspiros solitários e infelizes. Também eu expiro os mesmo sentimentos, contribuindo para aquele ar sufocante e quase extinto.

Embora tenha a lareira acesa atrás de mim, sinto o meu corpo congelado. Apenas a minha alma escapa, sendo aquecida desse artificial modo. O contraste entre o seu calor e o gelo do coração, queima a minha mente e impede-me de pensar e agir friamente.

Todo o mundo arde à minha volta durante a calmia da noite. Permito que os meus sentimentos sejam envolvidos pelas labaredas daquela imensidão para que consiga perceber a intensidade destas minhas emoções.

Absorvo-me no silêncio daquela cerração abafada, na tentativa de calar o grito lancinante que me foge do peito... Mas até esse processo exige demasiada força de mim... uma força que eu não tenho... Em vez de gritos ainda sibilo palavras indecifráveis que me escapam descontrolada e imparavelmente.

Parto, então , para um estado louco e paranóico que, discretamente, vai desintegrando a minha mente e transformando parte do meu ser. Caio num obscuro infinito criado por mim, perdendo-me no meu próprio interior. A respiração começa a falhar... O fogo extingue-se... Restam apenas as cinzas das suas labaredas e um pedaço de gelo intocável que as reflete indiferentemente. De repente, o gelo quebra, ficando somente aquelas cinzas inanimadas... As cinzas que sobraram de mim e que, com uma forte rajada de vento, voaram.

sábado, 10 de setembro de 2011

Fire and Ice are just like Black and Blue

Surgiste-me na escuridão. Durante a minha escuridão. Abraçaste-me com as negras asas da tua solidão e crias-te em mim um turbilhão de emoções e pensamentos. Encontrei-te. Não precisava de mais nada... Só o facto de saber que te tinha junto a mim, dava um novo sabor à minha mísera existência. Tenho tanto medo do futuro... Ou da falta de um futuro só nosso...

Eu dei-te o meu coração e todo o meu ser... Partilhamos a alma. 'A nossa alma'... Enfim, permiti que invadisses o meu espaço e residisses no meu corpo, nas minhas ideias e pensamentos, na minha mente... Deixei-te ver o mundo a partir do meu ponto de vista e tu levaste-me a vê-lo desde a lua. Aliás, prometeste-me o céu e a Terra... mas só me deste as estrelas. A noite pertencia-nos... e agora já não consigo olhar para ela da mesma maneira, sem me lembrar de todas as nossas conversas ao mais ínfimo pormenor. Sinto-me nos confins da Terra, escondida no mais obscuro ponto do subsolo... e tudo porque me largaste a mão e deixas-te cair, mesmo sabendo que eu me partiria, como sempre acontece.

Perdi os meus próprios estilhaços e não vejo maneira de os encontrar. Percorro automaticamente as ruas da cidade na esperança de te ver e os voltar a juntar... Preencher o vazio asfixiante que deixas-te em mim... Mas, por mais que tente, nunca te vejo... Não te encontro... Não me consigo encontrar... Em lugar disso, passo pelos locais onde tudo aconteceu (porque não consigo evitar e porque fica a caminho) e deixo-me invadir pelas memórias e recordações dos tempos em que tudo parecia eterno e perfeito. Como me fui eu deixar enganar? A eternidade é algo sobrenatural, algo ficcional! Não acontece a qualquer ser humano MORTAL que ande por aí!

Não estou a conseguir aceitar a realidade nem percebo o sentido dos sonhos e flashbacks que me atormentam... Gostava de poder fugir dos meus próprios pensamentos, rejeitar as emoções, bloquear os sentimentos! Eu sei que não era tua intenção ferir-me mas deixaste-me outra cicatriz... Num lugar onde nunca ninguém tinha deixado... Na minha alma...

Não consigo evitar a tua presença em tudo aquilo que faço, tudo aquilo que digo e que me dizem, tudo aquilo que vejo, tudo aquilo que ouço... Já não existe mais música senão a tua... E não me refiro apenas aquela que tu crias. Refiro-me também ao próprio timbre da tua voz, ao som das tuas palavras, ao ritmo dos teus batimentos cardíacos.

Maldito destino... Não consigo lutar contra ele neste estado. Talvez fosse capaz de o fazer senão tivesse todas estas emoções a aflorar-me na pele. Mas assim não... Mal me posso mover... Contudo, não quero deixar de acreditar... Só queria que voltasses e que tudo voltasse a ser como de antes... (and no, I am not in love. I just have feelings for you. That's all.)

'Come back... Come back to me...'